De acordo com o IBGE, sem considerar os efeitos da Covid-19, a expectativa de vida para os homens brasileiros era de 73,3 anos em 2020. Já para as mulheres, a esperança de vida era de 80,3 anos. A estimativa vem crescendo desde 1940. Naquele ano, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de apenas 45,5 anos, ou seja, os brasileiros hoje vivem, em média, 31,3 anos a mais do que em meados do século passado
Hoje em dia chegar à velhice significa buscar manter-se ativo e com perspectiva de boa saúde, desfrutando do que a medicina tem a oferecer, visando um futuro com qualidade de vida.
O cuidado com a saúde do idoso é algo que demanda conhecimento interdisciplinar. A urogeriatria é uma área onde o encontro da urologia e da geriatria clínica busca oferecer tratamento especializado com enfoque nas alterações do trato geniturinário nas pessoas com mais de 60 anos.
Ainda que heterogêneas, as síndromes geriátricas compartilham muitas questões. Elas são altamente prevalentes, em especial no idoso mais frágil, impactando na qualidade de vida e gerando muitas incapacidades.
Por exemplo, quando uma infecção envolvendo o trato urinário desencadeia um episódio de delirium, é a função neural alterada na forma de mudança cognitiva e comportamento que permite o diagnóstico de delirium e determina muitos desfechos funcionais. O cruzamento entre os sintomas afetando diferentes sistemas orgânicos desafia o urogeriatra a pensar e a tratar o idoso de forma diferente da tradicional. Por isso a experiência nesta área é fundamental.
Não é incomum o idoso minimizar as suas queixas para não gerar incômodo familiar ou ainda pelo fato de estar habituado com o problema, não percebendo o quanto ele é prejudicial ao se tornar progressivamente pior.
Dentre os principais problemas tratados na urogeriatria e que fazem parte da avaliação no consultório estão:
Condição muito comum associada ao envelhecimento, exige cuidado especial por ser de evolução muito lenta. Na maioria das vezes, o paciente idoso se habitua ao padrão urinário e não percebe que o jato da urina já não é satisfatório, que o esvaziamento da bexiga não é completo ou ainda que está acordando muitas vezes à noite. A noctúria (aumento da frequência urinária noturna) implica em piora significativa da qualidade de vida e aumenta muito o risco de queda na população idosa. O tratamento da hiperplasia prostática evoluiu muito nos últimos anos, de modo que hoje é possível realizar um procedimento cirúrgico, na maioria das vezes, sem cortes, com menor risco anestésico e com mais rápida recuperação às atividades diárias, independente da idade do paciente. Discuto mais sobre HPB e tratamentos nos posts específicos
É uma condição que pode afetar ambos os sexos, sendo mais comum na mulher. Está comumente associada ao fato da uretra ser mais curta na população feminina, eventualmente com descuido de higiene, ressecamento vaginal, constipação intestinal, uso de fraldas, dentre outras. A avaliação urológica é fundamental e o tratamento muitas vezes é necessário.
É o câncer mais comum do homem, com 68.220 casos diagnosticados no Brasil em 2018. O histórico familiar e o envelhecimento estão diretamente associados ao risco de desenvolver câncer de próstata, especialmente em idosos com mais de 65 anos. A doença pode ser assintomática e o diagnóstico precoce é fundamental para buscar o tratamento adequado e aumentar a chance de cura. A tecnologia também evoluiu para facilitar o tratamento desta condição na população idoso, visando reduzir seus efeitos colaterais.
As principais condições associadas à dificuldade de ereção ou redução de libido são mais prevalentes na população idosa. Hipertensão, diabetes, obesidade, redução dos índices hormonais, redução da prática de atividade física, histórico de tabagismo, dentre outras, têm impacto direto. O tratamento desta condição faz parte da consulta do urogeriatra, visando trazer mais liberdade e prazer nesta fase da vida.
A redução dos hormônios sexuais, conhecido nas mulheres como menopausa, também acontece nos homens. A baixa produção de testosterona, principal hormônio relacionado ao desempenho sexual, acontece muito frequentemente na população idosa masculina. Estima-se que o produção de testosterona reduza de 1%-2% ao ano a partir dos 40 anos, o que resulta em uma taxa de testosterona plasmática média 35% menor nos homens com mais de 70 anos. O decréscimo da testosterona pode ser o resultado de uma falência testicular ou por um desequilíbrio no eixo hipotálamo-hipófise-gonada (secundário). Os sintomas podem ter início insidioso e progressão clínica lenta, nem sempre sendo fácil a sua identificação. Os principais sinais clínicos e sintomas da baixa testosterona são :
– redução do volume testicular;
– infertilidade;
– diminuição de volume capilar;
– diminuição de massa muscular;
– ganho de peso, especialmente obesidade visceral;
– síndrome metabólica (diabetes, hipertensão, alteração de colesterol e ganho de peso);
– diminuição da densidade mineral óssea;
– anemia leve;
– redução da libido e da atividade sexual;
– disfunção erétil;
– menor frequência de ereções noturnas e matinais;
– ondas de calor;
– mudança de humor, fadiga, irritabilidade, raiva;
– perda de vigor;
– depressão;
– distúrbios do sono;
– diminuição da função cognitiva;
Por isso, também faz parte da avaliação da consulta urológica especializada. A reposição de testosterona é indicada em pacientes que tenham quadro clínico e laboratorial confirmando a suspeita de DAEM e que não possuam contra-indicações absolutas (câncer de próstata e câncer de mama masculino). Além da reposição hormonal, são incentivadas mudanças de estilo de vida, objetivando um envelhecimento mais saudável. O tratamento exige um acompanhamento regular, com reavaliação periódica para ajustes de dose e eventuais efeitos colaterais do uso das medicações.
O homem deve buscar o acompanhamento regular com o urologista sempre que tiver qualquer dúvida ou situação de risco. Quando se trata de problemas da próstata, a visita deve iniciar-se aos 45 anos ou sempre que houver algum sintoma. Além disso, qualquer uma das condições descritas acima pode servir de sinal para uma avaliação mais cuidadosa. Conforme envelhecemos muitos problemas são silenciosos, enquanto outros acabam fazendo parte dos hábitos do idoso. Por isso, estamos prontos para realizar uma investigação mais detalhada no paciente idoso em busca de qualquer alteração do trato urinário.
Referências
1- MORAES, E.N.; MARINO, M.C.A.; SANTOS, R.R. Principais Síndromes Geriátricas. Revista de Medicina de Minas Gerais, Belo Horizonte, v.20, n.1, p.54-56, 2010.
2 – NASCIMENTO, E. S. Síndromes Geriátricas Aspectos Gerais . Revista Multidisciplinar em Saúde, v. 1, n. 4, p. 35, 2020.
3 – Inouye SK, Studenski S, Tinetti ME, Kuchel GA. Geriatric syndromes: clinical, research, and policy implications of a core geriatric concept. J Am Geriatr Soc. 2007 May;55(5):780-91. doi: 10.1111/j.1532-5415.2007.01156.x. PMID: 17493201; PMCID: PMC2409147.
Tratamento anterior
HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNAPróximo tratamento
TRANSPLANTE RENAL