A discussão com o paciente a respeito do tratamento do câncer de próstata recém diagnosticado vai passar, obrigatoriamente, pela possibilidade de realizar a remoção cirúrgica da próstata e do tumor. O tratamento tem maior probabilidade de êxito quando realizado mais precocemente, enquanto o tumor está menor e as perspectivas de uma cirurgia que preserva a potência sexual são melhores.
Todo paciente com câncer de próstata que será submetido a cirurgia têm as seguintes prioridades: primeiro eles desejam sobreviver e alcançar a cura do câncer; segundo, eles desejam permanecer continentes, sem perda urinária; terceiro, eles desejam preservar a potência sexual.
Estes também são meus principais desejos como urologista ao realizar a prostatectomia radical.
A prostatectomia radical consiste na remoção cirúrgica da glândula prostática como um todo e das vesículas seminais. A principal vantagem da cirurgia é que ela proporciona a possibilidade de cura com um mínimo de danos colaterais aos tecidos vizinhos quando realizada de modo hábil. Para isso, a técnica tradicional de prostatectomia aberta evoluiu nos últimos 150 anos. Atualmente a prostatectomia radical laparoscópica e a prostatectomia robótica oferecem resultados superiores em diversos aspectos, sendo minha preferência.
Desde a introdução do da Vinci Surgical System (Intuitive Surgical, Sunnyvale, CA, EUA) em 2000 a maioria das prostatectomias radicais nos Estados Unidos utilizam a plataforma robótica. No Brasil tem ocorrido aumento expressivo do número de plataformas robóticas e por consequência também vêm crescendo o número de cirurgias.
O acesso cirúrgico é realizado também por pequenas incisões (geralmente seis) que possibilitam a introdução de uma câmera e das pinças acopladas aos braços do robô. O comando cirúrgico é dado pelo urologista e replicado pelo robô. O braço do robô é articulado e realiza os mesmo movimentos que um punho humano e que um polegar e um indicador fazendo movimentos de oposição. Ou seja, o braço do robô é como a mão do cirurgião dentro do paciente através de uma pinça de 8 milímetros. O grande benefício da técnica está na disponibilidade de visualização tridimensional (3D) para o cirurgião, a aproximação da câmera ao local cirúrgico e a destreza que o controle dos braços robóticos permite à performance do cirurgião.
A tecnologia contribui muito para o retorno mais precoce às atividades do dia-a-dia, a retirada da sonda vesical em menor tempo, menor risco de sangramento e, possivelmente, melhores resultados oncológicos de controle da doença. Além disso, a visualização das estruturas nervosas e musculares que contribuem para a potência e a continência do paciente é muito mais refinada. A dissecção meticulosa e a preservação das estruturas do esfíncter urinário e dos feixes neurovasculares é claramente superior com o uso do robô.
A próstata é um órgão com função reprodutiva, basicamente. Ela auxilia na maturação dos gametas e na fluidificação do sémen ejaculado. Na idade em que o câncer se manifesta, é rara haver preocupação por parte do paciente em relação às questões de fertilidade. Portanto, a próstata faz pouca falta quando é retirada.
A cirurgia robótica consegue oferecer ao paciente uma recuperação rápida. O tempo médio de permanência no hospital após a cirurgia é de 24horas. O paciente sente pouca dor, consegue caminhar e se alimentar sem restrições. A sonda vesical utilizada para unir a bexiga e a uretra do paciente é utilizada para que ocorra a cicatrização do canal urinário. Ela é retirada, geralmente, uma semana após a cirurgia, momento que o paciente passa a urinar espontaneamente. O PSA passa a cair rapidamente após a cirurgia, atingindo os níveis desejados após 30-60 dias. O acompanhamento do período pós operatório é feito de perto pelo urologista, com visitas frequentes ao consultório.
O tratamento do câncer de próstata leva em consideração tanto fatores físicos quanto mentais do paciente, assim como a relação do paciente com o seu trabalho, sua família, seu lazer. Essas questões em conjunto contribuem para a percepção do paciente em relação à sua qualidade de vida pré e pós tratamento. A abordagem sempre contará com o auxílio de uma equipe multidisciplinar composta por urologista, oncologista clínico, radiologistas, radioterapeutas, enfermeiros especializados, fisioterapeutas, psicólogos, dentre outros. A atenção à estas questões psicossociais faz parte da minha abordagem no tratamento do câncer de próstata.
O cuidado do câncer de próstata vai muito além do tratamento exclusivo do órgão afetado. Ele envolve o paciente e a família. O stress e a ansiedade que vêm junto com o diagnóstico, com os sintomas da doença ou com o tratamento em si, vai ser minimizado quando se têm uma abordagem que envolve todos estes profissionais, as pessoas próximas ao paciente e a melhor tecnologia possível. Levar em consideração a qualidade de vida implica em entender os valores do paciente e suas preferências, assim as propostas de tratamento vão ser formuladas, adequadamente discutidas e postas em prática com melhores resultados.
REFERÊNCIAS
1 – PROSTATE CANCER. Guideline da Sociedade Européia de Urologia. Acesso em https://uroweb.org/guidelines/prostate-cancer
2 – PROSTATA CANCER EARLY DETECTION. Guideline da Sociedade Americana de Urologia. Acesso em https://www.auanet.org/guidelines-and-quality/guidelines/prostate-cancer-early-detection-guideline
3 – Alan W. Partin; Alan J. Wein; Louis R. Kavoussi; Craig A. Peters. Campbell-Walsh Urology 11th Edition. Elsevier, 2016
4 – Flávio T. Rocha. MANUAL DE UROLOGIA DE CONSULTÓRIO – SBU; 2018
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